quarta-feira, 15 de junho de 2011

Postado por Yasmin Cristina

Aline Pedrosa nº03, Andreza Santana nº05, Camila Ferreira nº07, Danielly Machado nº10 e Natalia Quadro nº34.



A Hora da Estrela

Um encanto de personagem que chega aos 30 anos. Macabéa, a alagoana, protagonista de A Hora da Estrela, ganha merecida homenagem da Editora Rocco. Como assim? A obra de despedida de Clarice Lispector, lançada pouco antes da morte da escritora, em 1977, ganha edição especial, com novo projeto gráfico e dois CDs contendo o texto integral do romance na voz do ator Pedro Paulo Rangel e participação da cantora Maria Bethânia (narração da dedicatória do autor).

A trama dupla conta os últimos dias de vida da jovem de 19 anos, Macabéa e de Rodrigo S. M., o escritor da história que está condenado a uma doença terminal, isto é, o alter-ego de Clarice Lispector, que diz: "Eu não inventei essa moça. Ela forçou dentro de mim a sua existência. Ela não era nem de longe débil mental, era à mercê e crente como uma idiota. A moça que pelo menos comida não mendigava, havia toda uma subclasse de gente mais perdida e com fome. Só eu a amo".

Este autor alter-ego com firmeza e riqueza de detalhes, relata a vida triste e sem perspectiva desta moça que pontua sua vida de solitário e silencioso desespero com as informações do Você Sabia? Da rádio Relógio, sinistro metrônomo a comandar o ritmo inútil de seus últimos dias de vida.

Felicidade? Para Macabéa parece que isto não lhe é permitido, pelo menos em vida. Quem era? Jamais soube, pois "se tivesse a tolice de se perguntar, cairia estatelada e em cheio no chão. É que 'quem sou eu? ' provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto". A alagoana chega a ser "tão tola que às vezes sorri para os outros na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham".

Contudo, a vida estéril de Macabéa ganha um sopro de esperança e alegria quando entra em cena a cartomante Carlota que lhe prevê uma maravilha: o casamento com um estrangeiro rico. No entanto, "o que amadurece plenamente, pode apodrecer". Eis que em sinistra ironia, Macabéa termina sob as rodas de um automóvel de luxo: um Mercedes-Benz. Acontece a explosão final: A Hora da Estrela.

É no decorrer de seus derradeiros dias de vida que a nordestina sofre "explosões", iguais às estrelas. Este, que é um corpo de forma esférica, formada por uma massa de gases incandescentes, mantidos juntos por sua própria gravidade, ou seja, astro dotado de luz própria, observável sob a forma de um ponto luminoso. O período de vida depende da massa e da luminosidade: uma estrela muito luminosa pode ter vida de apenas um milhão de anos, porém a idade máxima de nossa estrela, Macabéa, é de 19 anos.

 “Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Tanto que (explosão) nada argumentou em seu próprio favor quando o chefe da firma de representante de roldanas avisou-lhe com brutalidade (brutalidade essa que ela parecia provocar com sua cara de tola, rosto que pedia tapa), com brutalidade que só ia manter no emprego Glória, sua colega, porque quanto a ela, errava demais na datilografia, além de sujar invariavelmente o papel".

De fato, "que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro, tem pobreza de espírito, ou saudade por lhe faltar mais coisa preciosa que ouro - existe a quem falte o delicado essencial". Sem dúvidas, vale a pena conferir esta edição especial de A Hora da Estrela

Felicidade clandestina

A narradora recorda sua infância no Recife. Ela gostava de ler. Sua situação financeira não era suficiente para comprar livros. Por isso, ela vivia pedindo-os emprestados a uma colega filha de dono de livraria. Essa colega não valorizava a leitura e inconscientemente se sentia inferior às outras, sobretudo à narradora. Certo dia, a filha do livreiro informou à narradora que podia emprestar-lhe “As Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato, mas que fosse buscá-lo em casa. A menina passou a sonhar com o livro. Mal sabia a ingênua menina que a colega queria vingar-se: todos os dias, invariavelmente, ela passava na casa e o livro não aparecia, sob a alegação de que já fora emprestado. Esse suplício durou muito tempo. Até que, certo dia, a mãe da colega cruel interveio na conversa das duas e percebeu a atitude da filha; então, emprestou o livro à sonhadora por tanto tempo quanto desejasse. Essa foi a felicidade clandestina da menina. Fazia questão de “esquecer” que estava com o livro para depois ter a “surpresa” de achá-lo. “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.”
  

Laços de Família
Laços de Família, livro publicado em 1960, é uma obra que reúne vários contos da autoria da escritora Clarice Lispector. O primeiro dos contos é Devaneio e Embriaguez de Uma Rapariga. Trata-se de uma jovem mulher portuguesa, como se pode ver pela sua linguagem, casada e mãe que se deixa apanhar, de tal forma, pelo tédio e pela rotina do dia a dia que já nem da cama quer sair, levando o marido a pensar que ela esteja adoentada. Um dia ela e o marido vão jantar com um homem de negócios rico. Durante o jantar ela bebe demais e a sua vida vai mudar a partir daí. Amor é o título do segundo conta que fala também de uma dona de casa, mas esta dedica-se a cuidar do lar e da família enquanto tenta fugir de si própria. Um dia, ao regressar a casa depois das compras, assiste a uma situação que a faz rever a sua condição de mulher. O conto que vem a seguir é Uma Galinha. Comprada para ser cozinhada e comida, a galinha consegue fugir, mas é perseguida e apanhada. O fato de, em vésperas de ser morta, pôr um ovo, o que representa a feminilidade associada à maternidade, salva-a da panela, mas apenas por algum tempo. A Imitação da Rosa é o quarto conto. A protagonista é Laura, uma dona de casa extremamente perfeccionista. Um dia vê um boquê de rosas e sente-se dividida entre enviá-las à sua amiga Carlota ou ficar com elas para si. O quinto conto é Feliz Aniversário. D. Anita comemora os seus 89 anos de idade e toda a família está reunida para festejá-los. No entanto, nenhum deles está ali por sentir hábito por ela ou porque haja algum entre eles. Estão ali apenas por obrigação. A Menor Mulher do Mundo, o sexto conto, é sobre a notícia publicada nos jornais que provoca as mais dispares reações e que diz ter sido descoberta, numa isolada e frágil tribo africana de pigmeus, os Likoualas, a mulher menor do mundo que, curiosamente, se encontra grávida. O Jantar é o sétimo conto e o primeiro em que o protagonista é uma figura masculina que se entre tem a observar minuciosamente outro homem que está a jantar. O seu interesse desvanece-se quando o homem pede a sobremesa e ainda mais quando, no final, ele põe os óculos para pagar a conta. O conto seguinte é Preciosidades e fala de uma menina que vive recatada até ao dia em que, a caminho da escola, é tocada. A partir daí a menina começa a pensar como mulher e ela que até aí era desleixada passa a querer ser bonita e pede aos pais uns sapatos novos. Em seguida temos Laços de Família. Depois de passar alguns dias em casa da sua filha Catarina, Severina despede-se dela e do genro, com quem não se dá muito bem. Mãe e filha sentem dificuldade em exprimir o amor que sentem uma pela outra e essa dificuldade leva Catarina a pensar no seu próprio filho, uma criança nervosa e introspectiva. A aproximação entre os dois vai fazer com que o marido se sinta excluído. O décimo conto é Começos de Uma Fortuna e tem como protagonista um adolescente que sonha em fazer fortuna, mas é ainda, ao mesmo tempo, o bebê carente que pede mais atenção e mais carinho. Mistério em São Cristovão é um conto repleto de mitologia. Uma família de que fazem parte a avó, a mãe, o pai e os filhos vive abastada até que, numa tranquila noite de Maio, três homens mascarados para um baile - um galo, um touro e um cavaleiro - tentam roubar do seu jardim um jacinto, mas a sua filha mais velha dá pela sua presença. O Crime do Professor de Matemática é o penúltimo conto. Um professor de matemática - símbolo de frieza, precisão e objetividade - desloca-se até à parte mais alta da cidade para enterrar um cachorro que ele abandonara. Mas depois, (com remorsos?) acaba por desenterrá-lo. O último conto é O Búfalo. Depois de um fracasso amoroso a protagonista tem um imenso desejo de odiar, mas não é bem sucedida até ao dia em que vê à sua frente, um búfalo, algo que, de certa forma, simboliza a sexualidade masculina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário